Cientistas apontam que onze espécies de peixes goianos estão ameaçados de extinção
Quatro pesquisadores do projeto Oasis identificaram que onze espécies de peixes goianos da espécie rivulídeos, popularmente conhecidos como peixes-das-nuvens, estão ameaçados de extinção em Goiás. A pesquisa é coordenada por Silvana Barbosa, do Instituto Federal Goiano (IFG), que também integra a organização conservacional Instituto Boitatá, e pelo pesquisador Dr Werther Ramalho, que é presidente da instituição. O projeto tem a participação do Dr Alessandro Ribeiro e Guilherme Cândido.
O projeto objetiva identificar a presença destes seres em centenas de corpos hídricos do Estado e catalogar as espécies observadas. Segundo Silvana, em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o projeto tem um foco maior no aprofundamento do conhecimento dos animais considerados como invisíveis, tanto pela sociedade em geral como pela comunidade acadêmica. “Esse [peixes] são espécies que têm que ter um destaque, as pessoas têm que conhecer por porque eles são tidos como invisíveis porque eles são muito pequenos.”
Além do Instituto Boitatá, o projeto tem apoio faz parte do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), e contribui para o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Peixes Rivulídeos Ameaçados de Extinção (PAN Rivulídeos) do Instituto Chico Mendes (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A pesquisa ainda deve prosseguir até o ano de 2028 com mais espécies identificadas pela equipe.
A família dos rivulídeos
Segundo Silvana, as espécies contempladas no projeto pertencem à família dos rivulídeos, peixes que se dividem em dois grupos caracterizados pela ocorrência de chuvas, sendo os anuais, que podem ser encontrados o ano inteiro, e os não-anuais, que podem ser encontrados apenas com a presença das chuvas.
Em Goiás, os animais podem ser encontrados nas quatro regiões do estado em pequenas poças de água alagadas durante as chuvas e em pequenos córregos. Segundo a pesquisadora, o projeto contou com maioria de amostragem na região sudoeste do Estado, nos municípios de Serranópolis, Rio Verde, Montividiu e Caçu. Por causa disso, são seres considerados microendêmicos, ou seja, só aparecem naquela localidade do globo inteiro, e devido à invisibilidade, não possui estudo sobre os efeitos ecológicos destes animais.
O projeto se baseou na apuração dos possíveis locais de ocorrência dos animais, em maioria de difícil acesso em veredas e áreas alagadas. A quantidade e o registro da presença, e ausência, foi feito com evidência fotográficas das espécies encontradas pela expedição, além da captura de um exemplar para a catalogação. Segundo Silvana, a coleta dos rivulídeos foi feita com o uso de peneira, ou puça, a fim de preservar a integridade física do animal.
Risco de extinção
Contudo, conta que o que foi encontrado é que as circunstâncias locais determinam a presença de outros animais, como a temperatura da água. “Coletando exatamente um mesmo trecho em 36 pontos amostrais, a nossa pesquisa mostrou que a abundância das espécies de outros peixes era influenciada pela temperatura da água, onde a maior temperatura, menos abundante a ocorrência neste local”, explica.
Devido a isso, acende um alerta para as possíveis causas dos efeitos climáticos e como podem estar por trás da diminuição, e extinção, dos animais, com a diminuição do habitat pela expansão do agronegócio e demais empreendimentos que afetem as poças.
Isso é causado, segundo Silvana, pela falta uma legislação específica para contemplar áreas de ocorrências dos animais no licenciamento ambiental emitido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), contudo, afirma que a pasta trabalha para entender o problema, como a partir da elaboração da “Oficina de Avaliação de Riscos de Extinção de Peixes Rivulídeos de Goiás”.
Conforme diz a especialista, o processo do licenciamento ambiental ainda não contempla estas espécies para a emissão da autorização, e a falta do conhecimento contribui para degradação do habitat. “O processo de licenciamento… é falho porque ele não pede essas questões, ele não pede essa amostragem dos bichos porque são espécies extremamente sensíveis do ponto de vista do licenciamento.”
Das onze espécies apuradas, três (Simpsonichthys zonatus; Hypsolebias brunoi; Simpsonichthys margaritatus) não conseguiram ser encontradas pela equipe, o que preocupa ainda os pesquisadores da área pelo estado de conservação dos animais.
Confira a lista das onze espécies ameaçadas:
- Cynolebias griseus
- Hypsolebias brunoi
- Hypsolebias flammeus
- Hypsolebias notatus
- Melanorivulus formosensis
- Melanorivulus illuminatus
- Melanorivulus pinima
- Melanorivulus rutilicaudus
- Simpsonichthys margaritatus
- Simpsonichthys parallelus
- Simpsonichthys punctulatus
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