Matrix, um filme sobre terroristas
Taran falou à Gazeta Russa sobre suas reflexões:
Para mim, a relação entre o cinema e a realidade é importante. Na verdade, o cinema, como os mitos, tem objetivos e lida com o sentido da vida humana, personificando as necessidades internas das pessoas.
Quando você começa a analisar um filme, sua posição quanto a ele pode mudar. No processo, de repente acontece de o filme que você achava “engraçado” ou “sublime e profundo” conter algumas ideias desagradáveis, na realidade. E você percebe que há muito poucos filmes com mensagens positivas.
Na verdade, não fui em quem encontrou esse sentido no filme, mas o multimilionário Randy Gage, que eu cito no vídeo. Em Hollywood, fazer filmes é um negócio. E o negócio tem que te trazer lucros garantidos. Assim, os diretores e roteiristas são bem versados em psicologia e sabem quais temas e imagens podem engatilhar uma reação no espectador.
Taran: “Em Hollywood, fazer filmes é um negócio. E o negócio tem que te trazer lucros garantidos”. / Foto: Arquivo pessoal
Tem um monte de pobres, e eles são a principal audiência do cinema. Para que o espectador tenha empatia com o protagonista, o personagem principal tem que ser uma pessoa comum e seus oponentes têm que ser da minoria rica. A inveja é o sentimento mais impossível de erradicar. Assim, é muito fácil manipular as pessoas brincando com seus sentimentos de inveja.
No início, eu estava meio confuso por causa do “Matrix”. E me vi meditando um dia sobre a natureza dos personagens do filme e percebi que os membros do bando de Morpheus praticamente não tinham acesso à realidade, assim como aqueles na Matrix. Sua existência é baseada em sua crença no que seu líder lhes diz. Essa situação me pareceu muito similar com a dos terroristas que são recrutados.
Foto: Screenshot do canal “Sentido oculto”/YouTube
Como resultado, esse vira o vídeo no canal que ganha mais comentários. Mas, infelizmente, a julgar pela reação dos usuários, descobri que nem todo mundo é capaz de ver as coisas de um mesmo ângulo. Os adolescentes deixaram respostas muito negativas.
Em sua análise da série “Westworld”, você diz, entre outras coisas: “Se um personalidade existe mas não se desenvolve, isso leva a uma existência mecânica. Uma pessoa que não se desenvolve não difere de um robô operando de acordo com determinados programas”. Mas, no final da primeira temporada, um dos androides transpõe todos os obstáculos e acaba matando seu criador. Isso é um desenvolvimento genuíno?
Além disso, o desenvolvimento (no sentido de escapar das limitações de um estágio anterior) efetivamente significa um assassinato simbólico da pessoa que o personifica – normalmente, o pai. Pode-se lembrar de Platão, que percebeu que, transgredindo o limites filosóficos das ideias de Parmênides, ele estava de alguma maneira matando seu pai.
A violência nos filmes preenche uma função sobretudo simbólica: ela expressa a ideia de um crime ou, em outras palavras, de uma transgressão de algum limite. Até na vida cotidiana, se você for traído por uma pessoa de quem gostava, você diz “ele realmente me matou”, e experimenta algo similar. Em um trabalho de ficção, esse tipo de experiência tem a forma de um assassinato de verdade.