Paciente com diabetes tipo um fica mais de um ano sem precisar injetar insulina após transplante de tecidos gerados por células-tronco
Um artigo publicado na revista ‘Nature’ mostra que uma mulher, de 25 anos, com diabetes tipo 1 se tornou capaz de produzir insulina em quantidades necessárias para se ver livre das injeções cotidianas. O resultado foi alcançado três meses após um transplante de células-tronco reprogramadas. A mulher, de Tianjin, na China, se tornou a primeira pessoa com a doença a receber o tratamento com material extraído do próprio corpo.
“Eu gosto de comer de tudo, especialmente hotpot”, celebra a mulher, que antes precisava de injetar cotidianamente altas doses de insulina, mas agora pode comer açúcar sem auxílio de medicação continuada. O transplante aconteceu há mais de um ano, e os níveis de produção de insulina seguem estáveis na paciente, que preferiu permanecer anônima. O estudo foi originalmente publicado na ‘Cell Today’.
Normalmente, é preciso utilizar imunossupressores em transplantes que usam material de um outro doador, que não o próprio paciente. Essa medicação facilita a adaptação do novo órgão ou tecido, mas acaba tornando o transplante um processo mais delicado, já que zera a resposta imune do paciente contra todo e qualquer invasor. Cientistas apontam vantagens no procedimento que utiliza células do próprio paciente, pois dessa forma o sistema imunológico do corpo não atacaria o material injetado.
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Em entrevista ao Jornal Opção, a endocrinologista Marília Zanier afirma que o procedimento realizado na mulher de 25 anos requer mais observação, já que na diabetes tipo um, além do fim da produção de insulina, existe o traço autoimune, ou seja, o corpo produz resposta imunológica contra as próprias células.
No caso da chinesa de 25 anos, especialistas apontam que é necessária uma observação acima dos cinco anos para considerá-la de fato curada, já que ela fazia uso de imunossupressores devido a um transplante de fígado anterior. Dessa forma, a medicação que afetava o sistema imunológico pode ter influenciado na aceitação do transplante de células-tronco.
“Será que no caso dessa paciente, esse transplante pegou bem porque ela não teve a produção de anticorpos, já que ela estava recebendo o imunossupressor”, questiona Zanier. A especialista alerta que, fazendo uso de imunossupressão, “qualquer infecção, qualquer vírus, podem ser catastróficos”.
Estudos semelhantes
O estudo da ‘Cell Today’ vem na sequência de um estudo separado feito por pesquisadores de Shangai, na China. Neste trabalho, foram transplantadas ilhotas de células tronco produtoras de insulina no fígado de um paciente de 59 anos com diabetes tipo dois. O material injetado cirurgicamente no homem é derivado de células-tronco reprogramadas retiradas do próprio paciente.
Zanier afirma que “nesse caso, a chance de realmente funcionar a chance é gigantesca”, já que não existe o traço autoimune que portadores da diabetes tipo um possuem. Dessa forma, usando células retiradas do próprio paciente e as aplicando em casos de diabetes tipo dois, o uso de imunossupressores pode não ser necessário ou, pelo menos, menos intenso.
A endocrinologista chama atenção, entretanto, para os hábitos de vida após o transplante. “O transplante não significa que o paciente pode ter uma vida desregrada, pelo contrário, ele tem que proteger aquele órgão que ele recebeu”, afirmou ao mencionar a importância de cuidados com a alimentação e com exercícios físicos.
No Brasil
Zanier afirma que a técnica de usar células-tronco pluripotentes induzidas (IPS) para tratar doenças não é algo novo. A técnica já é usada em tratamentos na medula, no fígado entre outros órgãos e tecidos. No intuito de ressaltar a importância da pesquisa sobre o uso das IPS’s no tratamento da diabetes, a endocrinologista traz um caso brasileiro.
O endocrinologista e pesquisador da USP de Ribeirão Preto, Carlos Eduardo Cury, trabalha com o transplante de células-tronco em pacientes com diabetes há mais de uma década. A diferença é que, no caso do brasileiro, o material não parte do próprio paciente, a resposta imune era sempre zerada antes do procedimento e o uso de imunossupressores era continuado em certa medida.
Em alguns casos, o paciente voltou a usar a insulina alguns anos após o transplante. Em outros casos, foram-se dez anos sem necessidade alguma de aplicações complementares. “O corpo voltou a produzir anticorpos contra essas células”, relatou resultados da pesquisa de Cury em pacientes com diabetes tipo um.
Usando o exemplo da pesquisa do professor da USP, Zanier reforça a importância de se acompanhar os resultados da pesquisa mais recente da chinesa de 25 anos. Saber até que ponto os imunossupressores que ela tomava por conta do transplante de fígado afetaram a aceitação das ilhotas implantadas é essencial para a continuação dos estudos.
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