A imagem do Itamaraty ferida de morte
A diplomacia brasileira sempre foi, a despeito do Brasil nunca ter sido um país desenvolvido, considerada uma das mais profissionais e eficientes do mundo. Seu patrono, José Maria da Silva Paranhos Junior (1845 – 1912), o Barão do Rio Branco, era o exemplo a ser sempre seguido: Correto, adepto do diálogo soberano mas respeitador, ignorando sempre o uso da força, honesto e franco no discutir direitos com outras nações, o Barão legou com sua atuação esclarecida à frente da diplomacia brasileira, de 1902 a 1912, uma série de tratados que fixaram nossas fronteiras (e ampliaram nosso território) com França, Argentina, Uruguai e Bolívia sem disputas armadas.
Essa tradição de seriedade e habilidade diplomáticas foi longamente mantida e se refletiu em ações importantes do nosso Ministério das Relações Exteriores, ou Itamaraty, como é conhecido. Exemplos mais patentes estão na atuação do ministro Osvaldo Aranha, presidindo a sessão da ONU que criou o Estado de Israel, em 1947; no Tratado de Itaipu, de 1973, um exemplo de engenharia diplomática para aproveitamento hidrelétrico em um rio binacional, respeitando integralmente os direitos de ambas as partes, Brasil e Paraguai; nas negociações do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, de 1975, que nos deu acesso ao uso da energia nuclear; em 1990, na chamada Guerra do Golfo, quando o competente embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima conseguiu negociar a saída do Iraque de cerca de 400 trabalhadores brasileiros (da empreiteira Mendes Junior, que fazia obras ali), e que Saddam Hussein pretendia usar como escudos humanos contra bombardeios dos EUA.
Houve respeito pelo profissionalismo, na escolha dos ministros das Relações Exteriores brasileiros, até que, no Governo Sarney, este optou por políticos no comando do Itamaraty (Olavo Setúbal e depois Abreu Sodré). Itamar Franco deu a escorregadela de escolher Fernando Henrique Cardoso, que nunca pertenceu aos quadros da diplomacia nacional, que não era do ramo, nem propriamente conhecido pela competência, mas pela vaidade. O próprio FHC, quando presidente, optou por diplomatas na chefia do Itamaraty, e Lula fez o mesmo em seu primeiro mandato.
Já Dilma – pasmem – submeteu o Itamaraty ao vexame de subordinar o ministro das Relações Exteriores, diplomata de carreira, a um assessor presidencial, que ditava, sem qualquer conhecimento, as regras da diplomacia. Chamava-se Marco Aurelio Garcia. Era de uma figura tosca, de extrema esquerda, um dos fundadores do Foro de São Paulo e que ficaria famoso por ser flagrado, em 2007, fazendo gestos obscenos ao festejar uma notícia favorável ao governo, relativa a um desastre aéreo em que faleceram quase 200 pessoas.
Michel Temer também não respeitou a regra do profissionalismo. Seus dois chanceleres foram políticos do PSDB, figuras que não tinham qualquer afinidade com a carreira diplomática: José Serra e Aloysio Nunes. E Lula repetiria, em seus últimos mandatos, a desastrada tática dilmista que iria se refletir da maneira mais negativa no renome da diplomacia brasileira, e na imagem do Brasil: Nomeou um ministro das relações Exteriores proforma (Mauro Vieira), mas entregou a condução da diplomacia brasileira a um diplomata medíocre, que nomeou assessor especial da presidência para assuntos externos: Celso Amorim. Enquanto Mauro Vieira aceitava seu papel decorativo, Celso Amorim, ideólogo de esquerda que é, tomava as decisões mais desastradas, que colocavam o Brasil em um papel esdrúxulo perante o mundo civilizado.
Alinhou inteiramente o Brasil ao que há de mais atrasado em termos ideológicos na América Latina: Cuba, Nicarágua, Venezuela. Adotou uma atitude refratária, quase hostil, aos nossos parceiros comerciais maiores nas vizinhanças, comandados por lideranças conservadoras (EUA e Argentina). Agrediu, até quase o rompimento diplomático, a única democracia do Oriente Médio (Israel) enquanto fazia vênias para a ditadura feroz do Irã. Apoiou os líderes mais corruptos da América Latina, ao ponto de dar asilo, com todas as honras, à ex-primeira-dama do Peru (Nadine Heredia) condenada em seu país.
Encantado com a remotíssima possibilidade, soprada por Celso Amorim, de ser indicado ao Nobel da Paz, Lula adotou uma posição de oferecido como mediador de paz em todos os conflitos mundiais: Rússia x Ucrania, Israel x irã, Venezuela x EUA etc. Foi ignorado por todas as partes em conflito, e o Brasil foi ridicularizado como “anão diplomático”. A coleção de vexames foi enorme, e só citamos aqui alguns dos mais evidentes.
E o Brasil sediou a COP 30, a trigésima conferência anual da ONU sobre mudanças climáticas. A sede escolhida foi a cidade amazônica de Belém do Pará. O que deveria ser um encontro perfeitamente planejado e executado pelo governo para acreditar o país que abriga a maior floresta tropical do planeta, redundou numa série de embaraços que deixaram ainda mais desprestigiados a diplomacia brasileira e o próprio Brasil:
1) Em termos de comparecimento, ficou demonstrada a pouca importância que se dá ao Brasil no exterior: Apenas 31 chefes de estado confirmaram presença (na COP 28, em Dubai, foram 139). O único expressivo foi o Presidente francês, Emmanoel Macron, que quando discursava, passou pelo desagrado nada diplomático de ter o microfone tomado de suas mãos com grosseria pelo governador da Bahia, que queria dizer algo. Os chefes de estado de China e EUA não compareceram. O mesmo ocorreu com os países do BRICS e do Mercosul.
2) O subdesenvolvimento nacional ficou escancarado na falta de preparo do evento: preços abusivos na hospedagem e na alimentação; falta de água em alojamentos; assalto a jornalistas; pane de ar-condicionado; alagamentos; incêndios; invasão de indígenas nas salas de reunião etc. A ONU chegou a enviar uma carta de reclamações ao presidente da COP, embaixador Correia do Lago, reclamando da balbúrdia.
3) A contradição estava presente no evento, por parte dos anfitriões: enquanto se falava em reduzir a poluição, o Presidente se recusava a uma hospedagem em um hotel comum e ocupava barcos luxuosos que consumiam milhares de litros de combustível fóssil por dia; uma avenida foi rasgada, em plena floresta, para servir ao evento, quando se falava em desmatamento zero; Lula anunciava busca por petróleo na foz do Amazonas, e por aí vai …
4) O chanceler alemão, Friedrich Merz, ao regressar a seu país, declarou-se alegre em estar de volta à Alemanha, insinuando desconforto dele e de sua comitiva com a desorganização brasileira.
E neste mesmo mês, a inauguração da ponte binacional ligando Foz do Iguaçu a Presidente Franco, no Paraguai, ao invés de ser um ato festivo, transformou-se em mais um vexame diplomático, pois o Itamaraty não conseguiu coordenar um ato conjunto, e acabou Lula fazendo uma inauguração sozinho do lado brasileiro, o que provocou protesto do presidente paraguaio, Santiago Peña.
Pobre Barão do Rio Branco. O que fizeram de seu legado…
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