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Декабрь
2025

Turismo capilar: como o Vietnã virou fornecedor de autoestima global

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Ycarim Melgaço
Professor e escritor, autor de História das Viagens e do Turismo (entre outros).
Instagram: @ycarim

Turismo capilar. Quando ouvi essa expressão pela primeira vez, achei que fosse brincadeira. Soava como invenção de salão chique, dessas que a gente escuta rindo. E, em parte, é mesmo um exagero.

Não existe exatamente um turismo do cabelo. O turista que chega ao Vietnã vai atrás de paisagens deslumbrantes, arrozais infinitos, baías cinematográficas, cidades vibrantes e de uma população reconhecidamente hospitaleira. Vai para ver o país e se encanta.

Mas, por trás desse roteiro oficial, há algo que não aparece nos guias, não entra nas selfies e não costuma ser comentado nas mesas de bar dos hotéis. Uma indústria silenciosa, camuflada, que funciona à margem da experiência turística e se alimenta justamente dela: a do cabelo humano.

Pequeno no mapa e imenso no peso da história, o Vietnã foi colônia francesa, campo de batalha da Guerra Fria e palco de uma das guerras mais violentas do século XX. No norte, Hanói, comunista, sob a liderança de Ho Chi Minh; no sul, Saigon, capitalista, apoiada pelos Estados Unidos. Uns lutavam pela revolução, outros pelo livre mercado. No fim, todos tentavam sobreviver.

O comunismo venceu a guerra. Só esqueceram de avisar o capitalismo  que não costuma perder guerras; no máximo, muda de endereço. Mudou-se para o Vietnã. Encontrou mão de obra jovem, disciplinada e barata. Instalou-se em zonas industriais, incentivos fiscais e contêineres. Marcas globais como Nike, Adidas e Apple trocaram o Made in China por um sorridente Made in Vietnam. Até a sul-coreana Samsung não resistiu ao apelo da mão de obra barata.

Mas a face mais reveladora dessa nova etapa não está nas fábricas de tênis nem nos smartphones. Está numa economia quase invisível, que não aparece nos relatórios turísticos nem nos discursos oficiais: a do cabelo humano.

No interior do país, em áreas marcadas pela pobreza e pela falta de alternativas, meninas e adolescentes deixam o cabelo crescer por anos. Dez, doze, quinze. Não por vaidade, nem por moda. Por cálculo. Em famílias atravessadas pela vulnerabilidade, o corpo vira a última reserva possível. Olha-se para a própria cabeça e o raciocínio é direto: aqui está o que ainda posso vender.

Cada centímetro tem valor. Cada fio que cresce é tempo acumulado, expectativa adiada, um pequeno capital em formação. O cabelo vira poupança. O espelho vira mercado. Quando alguém aparece oferecendo dinheiro vivo, não se trata de escolha, mas de ausência de opções. Recusar não é exatamente uma alternativa.

Esse cabelo atravessa oceanos. Recebe tratamento químico, certificação de qualidade, embalagem sofisticada. Nos salões de Nova York, Londres e Paris, vira símbolo de exclusividade. Vende-se caro. Muito caro. É elogiado pelo brilho, pela textura, pela “pureza”. Pouco se fala da origem real: tranças cultivadas por crianças e adolescentes que aprenderam cedo que beleza também pode pagar comida.

O Vietnã turístico segue vendendo natureza, cultura e hospitalidade. Em paralelo, uma outra economia opera em silêncio, extraindo renda diretamente da precariedade. O capitalismo, derrotado no campo militar, retorna agora de forma mais eficiente: não ocupa territórios, ocupa corpos. Não impõe bandeiras, impõe preços. Extrai valor centímetro a centímetro.

Hanói continua sendo a capital. O Partido Comunista segue no poder. A foice e o martelo permanecem pendurados na parede. Agora, tudo indica, muito bem penteados. O mesmo país que enfrentou o exército mais poderoso do mundo hoje abastece os salões mais sofisticados do Ocidente.

O turista volta para casa com fotos, lembranças e histórias sobre um povo acolhedor. Alguns, inclusive, levam consigo alguns fios que não eram seus. No salão, alguém vai elogiar o brilho, o caimento, a leveza do cabelo. Poucos vão imaginar que, do outro lado do mundo, uma menina aprendeu cedo a olhar para a própria cabeça e enxergar ali não beleza, mas sobrevivência.

Talvez essa seja a forma mais eficiente e socialmente aceitável que o capitalismo encontrou de continuar explorando os mesmos corpos, agora fio por fio.

Leia mais: Aeroporto de Lisboa: Portão do Inferno

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