Exército sírio entra na província de Raqa, reduto do EI
O exército sírio entrou neste sábado pela primeira vez em quase dois anos na província de Raqa, norte do país, reduto do grupo extremista Estado Islâmico (EI), que o regime combate com o apoio da Rússia, seu grande aliado.
O EI enfrenta três ofensivas simultâneas na Síria: duas operações em Raqa e outra na província vizinha de Aleppo, onde as forças curdas avançam para a cidade de Minbekh, sob controle do grupo extremista.
Também perde terreno no Iraque, onde as tropas governamentais continuam avançando na região de Fallujah, depois de tomar do EI a cidade de Saqlawiya, segundo fontes militares. Os Estados Unidos apoiam as forças iraquianas nos combates para recuperar Fallujah.
As ofensivas mostram a determinação dos russos e dos americanos, aliados de diferentes personagens no conflito sírio, de concentrar esforços na luta contra o EI, responsável por crimes na Síria e Iraque, assim como de atentados em vários lugares do mundo.
Na província setentrional de Raqa, em sua ofensiva iniciada na quinta-feira para recuperar a cidade de Tabqa, as tropas do regime "são apoiadas por bombardeios dos aviões russos e por milícias sírias treinadas por Moscou", afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Entraram na manhã de sábado na província de Raqa pela primeira vez desde agosto de 2014", quando o grupo extremista expulsou as tropas do local, completou.
O principal objetivo do exército é reconquistar a localidade de Tabqa, no Eufrates, perto de onde fica uma prisão controlada pelo EI e um aeroporto militar.
O exército e seus aliados entraram na província de Raqa a partir do sudoeste. Neste sábado estavam a menos de 40 km de Tabqa, capturada pelo EI em 2014.
O grupo executou 160 soldados após a tomada do aeroporto da localidade.
Ao menos 26 jihadistas e nove combatentes pró-regime morreram desde o início da ofensiva na quinta-feira.
Há 10 dias, as Forças Democráticas Sírias (FDS), uma coalizão árabe-curda apoiada pelos Estados Unidos, iniciaram uma ofensiva na província de Raqa e também avançam para Tabqa, mas a partir do norte.
"Parece que existe uma coordenação não declarada entre Washington e Moscou", afirmou Abdel Rahman.
Quase toda a província de Raqa está sob controle do EI, exceto as cidades de Tall Abyad e de Ain Isa, de onde a organização extremista foi expulsa pelas FDS.
O EI também enfrenta uma ofensiva na província de Aleppo, onde as FDS avançam para a cidade de Minbej, principal via de abastecimento entre Raqa, capital de fato dos extremistas, e a Turquia.
Na cidade de Aleppo, novos ataques aéreos sobre bairros rebelde deixaram nove mortos, de acordo com o OSDH, um dia depois de bombardeios intensos que mataram dezenas de civis.
De acordo com a imprensa estatal, sete civis morreram em ataques com foguetes disparados pelos insurgentes.
A estrada de Castello, a única que liga os setores rebeldes e o exterior, está bloqueada, segundo o OSDH. Isto significa que as zonas rebeldes, onde vivem 200.000 pessoas, "estão agora totalmente cercadas".
Aleppo, ex-capital econômica na região norte da Síria, está dividida entre bairros rebeldes ao leste e bairros controlados pelo regime ao oeste.
Todas as tentativas de fazer a trégua ser respeitada entre os rebeldes e o regime fracassaram nos últimos dias, assim como os esforços para alcançar uma solução política ao conflito, que em mais de cinco anos deixou 280.000 mortos e milhões de deslocados.
A ONU anunciou na sexta-feira que obteve autorização para entregar este mês ajuda humanitária por via terrestre a 12 zonas cercas na Síria.
Mas o regime aceitou apenas a entrega de ajuda "limitada" em três zonas cercadas, incluindo Daraya e Duma, ao mesmo tempo que nega acesso ao bairro Al-Waer em Homs (centro) e à cidade de Zabadani (sudoeste).
Fontes diplomáticas informaram que a ONU pedirá no domingo luz verde a Damasco para poder lançar a ajuda por via aérea.
* AFP