Com indígenas no centro, MS ocupa 6º lugar em conflitos no campo no País
Mato Grosso do Sul figura como o 6º estado com maior número de conflitos no campo em 2023, conforme relatório divulgado hoje pela CPT (Comissão Pastoral da Terra). O levantamento evidencia que os os casos envolvem, principalmente, as comunidades indígenas, que travam embates recorrentes com produtores rurais pela posse de terras. A Comissão Pastoral da Terra é um organismo ligado à Comissão para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). No relatório, consta que foram registrados 116 conflitos no campo em Mato Grosso do Sul, afetando a vida de 20.730 famílias. No País, o maior número de registros foi na Bahia, 202, seguido do Pará, 183. Se comparar com outros estados do Centro-Oeste e no Distrito Federal, MS fica na 2ª posição (ver quadros abaixo). Na lista de 116 conflitos no campo, foi contabilizado o surgimento de acampamento às margens da MS-164, na divisa entre Maracaju e Ponta Porã, no dia 8 de janeiro. Na entrada de fazenda de soja, cerca de 350 famílias sem-terra montaram barracas, à espera de demarcação. Mas são os embates envolvendo comunidades indígenas que lideram os registros analisados pela CPT. Dos 116 casos de conflitos no campo, 10 são referentes a ocupações, 9 deles, tendo indígenas como protagonistas. Uma delas ocorreu entre os meses de novembro e dezembro de 2023, na comunidade Pyelito Kue/Mbaraka´y, em Iguatemi, na região de fronteira com Paraguai. Há pelo menos 12 anos, os indígenas lutam pela demarcação das terras. A fazenda tem 2.387 hectares e faz parte da Terra Indígena Iguatemipegua I, apontada em estudo antropológico da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Dias depois, na mesma região, o caso ganhou maior repercussão por conta do ataque de jagunços denunciado por casal de documentaristas e engenheiro florestal de MS, que estava na região e foram até a área de conflito. Os três foram agredidos. Um deles teve o cabelo cortado e os homens, alguns com máscara, roubaram equipamentos, celulares e documentos deles. Os flagrantes de trabalho escravo rural foram separados da outra lista pelo CPT e chegam a 11 denúncias em Mato Grosso do Sul, com resgate de 88 trabalhadores, dois deles, menores de idade. Em 2023, a água foi o motivo de outros 3 embates em Caarapó, Dourados e Naviraí, em que foram relatados impedimento de acesso, destruição ou poluição de nascente e contaminação por agrotóxico. Contado os relatos de conflito, surgimento do assentamento, trabalho escravo e briga pelo uso de água, MS soma 130 casos classificados como de conflito, conforme relatório da CPT. De acordo com relatório da CPT, foram registradas dois assassinatos em 2023 , ambos em Aral Moreira, no dia 18 de outubro, na Terra Indígena Guasuty: a líder religiosa Sebastiana Gauto, 92, e o marido, Rufino Velasque, 55, ambos da etnia guarani-kaiowá, foram encontrados carbonizados. O sobrinho da idosa foi preso pelo crime. A comissão contabilizou, ainda, 6 tentativas de assassinato e 4 ameaças de morte, a maioria, contra indígenas. No estudo, a CPT avalia que, em Mato Grosso do Sul, existe um longo processo de intensos conflitos envolvendo os capitalistas do campo e, por exemplo, os indígenas Guarani-Kaiowá, com um número médio de conflitos acima de 50 ocorrências após 2016, e chegando a 105 em 2023. Na visita realizada este mês em Campo Grande, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs ao governador do Estado, Eduardo Riedel, firmar parceira para encontrar terra que possa ser repassada aos indígenas , citando os guarani-caiuá. A ideia é considerada possível, mas que precisa ser vista com cautela, segundo advogados aos direitos indígenas. Alta - Brasil registrou número recorde de 2.203 conflitos no campo, que afetou a vida de 950.847 pessoas, alta de 26,8% em relação ao ano anterior. As regiões do país que concentraram mais conflitos foram o Norte e o Nordeste, com 810 e 665 ocorrências, respectivamente. Na sequência, vêm o Centro-Oeste (353), o Sudeste (207) e o Sul (168). Conforme a CPT, a terra esteve mais uma vez no centro da maior parte dos conflitos no campo. Somente em 2023, foram 1.724 disputas por terra, correspondentes a 78,2% do total registrado, que inclui também conflitos por água (225 ocorrências) e trabalho escravo contemporâneo na zona rural (251 ocorrências), equivalentes a 10,2% e 11,3%. No ano passado, verificou-se crescimento de 7,6% nas ocorrências relativas à terra, que interferiram no universo de 187.307 famílias. No total, destaca o relatório, 1.588 dos conflitos por terra foram ligados à violência contra a ocupação e a posse e/ou contra a pessoa. No primeiro tipo de violência, observa-se que a quantidade dos casos de invasão subiu de 2022 para 2023, passando de 349 para 359. De acordo com a comissão, no ano passado, 74.858 famílias foram afetadas por esse tipo de agressão. A pistolagem foi o segundo tipo de violência contra a ocupação e a posse, com maior nível de registros em 2023. Foram contabilizados 264 casos, 45% a mais do que o total de 2022 e o maior número registrado pela CPT dentro do recorte da coletividade das famílias atingidas, que chegaram a 36.200. A entidade ressalta que as principais vítimas, nesse caso, foram os trabalhadores sem terra (130 ocorrências), posseiros (49), indígenas (47) e quilombolas (19). (Com informações da Agência Brasil). Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .