“O PT invisibilizar o ministro da Fazenda nos feitos econômicos do governo não faz sentido”, escreve Aquiles Lins
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manifestou insatisfação com críticas que a política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem recebendo de quadros do PT. Em entrevista ao jornal O Globo, Haddad cobrou coerência do partido e um reconhecimento pelo desempenho surpreendente da economia brasileira neste primeiro ano de governo. “É curioso ver os cartões que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!’ E o Haddad é um austericida”, reclamou Haddad. Em seguida completou: “não dá para celebrar Bolsa, juros, câmbio, emprego, risco-país, PIB que passou no Canadá, essas coisas todas, e simultaneamente ter a resolução que fala ‘está tudo errado, tem que mudar tudo’”, afirmou o ministro.
Em dezembro do ano passado, o diretório nacional do PT aprovou uma resolução na qual afirma que o Brasil “precisa se libertar da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal”, ou o partido não terá como responder às necessidades do país. O texto, que também critica aliança com partidos do centrão, o voraz pedágio que garante o mínimo de governabilidade a Lula 3, foi aprovado por 51 votos a favor e apenas 4 contrários.
A crítica do PT se dá em meio ao debate sobre a manutenção da meta de déficit zero nas contas públicas em 2024. Haddad defende a proposta, enquanto o PT reivindica mais recursos para o governo gastar em obras e investimentos, especialmente em ano de eleições municipais. Venceu a posição de Haddad, sancionada por Lula na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O país fechou 2023 com déficit de R$ 145 bilhões nas contas, cerca de R$ 45 bilhões acima da promessa de Haddad de entregar terminar o ano com um rombo fiscal próximo de 1% do PIB. O PT teme que, se se confirmarem as previsões de desaceleração econômica para 2024, a meta de déficit zero pode engessar o governo frente às adversidades projetadas.
Compreende-se que o PT busque tensionar o governo Lula mais para esquerda. Afinal é uma coalizão amplíssima, que hoje é refém de interesses fisiológicos do Congresso Nacional jamais vistos desde a redemocratização. Por outro lado, soa deselegante para o partido fritar o ministro da Fazenda do governo, um quadro histórico do próprio PT, que em 2018 cumpriu a missão inglória de substituir Lula e disputar uma eleição presidencial marcada para perder, em virtude do golpe que tirou o ex-presidente da eleição. Fernando Haddad tem cumprido importante função dentro do governo, demonstrou capacidade de articulação política ao tratar com um Congresso adversário sobre temas caros ao governo, como a aprovação da reforma tributária, a taxação de fundos offshore, a PEC da transição, pagamento de precatórios, renegociação de dívidas e melhoria do acesso ao crédito, estímulo ao consumo.
No primeiro ano de Lula 3, o sucesso do governo está atrelado ao sucesso das políticas econômicas do governo. Vide o desempenho do Produto Interno Bruto, que deve crescer em torno de 3%. A inflação está controlada dentro da meta, a criação de empregos formais bate recorde. O PT invisibilizar o ministro da Fazenda nesses feitos econômicos do governo não faz sentido. Um gesto de reconhecimento em direção a Fernando Haddad não seria nenhum demérito para o partido e demonstraria apreço pelo conjunto da obra.